Para facilitar a compreensão da proposta deste blog, começaremos
dizendo o que ele não é. Esta opção é antes de tudo didática, pois como
tangenciamos um tema bastante discutido por pesquisadores e jornalistas
evitamos produzir uma falsa expectativa sobre o seu conteúdo. A região do
Cariri e a cidade de Juazeiro do Norte foram, e ainda são, objetos de muitas
pesquisas, sobretudo em razão dos acontecimentos religiosos havidos nessa
região, discussões constantemente revigoradas por novas abordagens ou por novos
episódios, que sobrevêm esclarecendo obscuridades ou fomentando novas
controvérsias. O assunto tratado aqui, ainda que diretamente relacionado a
aspectos da religiosidade popular caririense, enfoca uma componente específica
desse universo religioso, a saber, o repertório musical, e, em particular, as
músicas voltadas para o cultivo da penitência enquanto dispositivo essencial
para a economia de salvação das almas.
Como será comentado numa postagem posterior, a provocação inicial
para estudar o repertório dos benditos surgiu de um fato particular que
comprovamos durante a pesquisa de campo que embasou a nossa dissertação de
mestrado. Sob a acusação de serem agourentos e de fazerem recair sobre quem os
escuta algum tipo de infortúnio, os benditos antigos passaram a ser rechaçados
por parte da população de Juazeiro do Norte. A nossa investigação parte desse
fenômeno de recepção musical, contemplando além da música e do contexto
cultural, todo um léxico de sutilezas acústicas e corporais utilizadas durante
a performance musical. Constituindo premissa dessa
pesquisa, compreendemos que o estudo de um repertório musical religioso
constitui-se num meio fecundo para adentrar a intimidade de uma experiência com
o sagrado. De forma breve e direta poderíamos dizer que a nossa pesquisa
consiste em analisar uma forma de cantar
benditos penitenciais, repertório que condensa os principais preceitos
devocionais que configuram a identidade religiosa penitente do sertão do
Cariri.
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